Não é preciso ser-se um especialista em comércio mundial para se ter a noção de que as trocas comerciais chegaram a um estado de evolução (ou não, dependendo do ponto de vista) extremo. Hoje, ou melhor, antes da crise económica e financeira mundial, tudo se transaccionava, comprava e voltava a vender. Do tangível ao mais intangível e impensável possível.
O comércio mundial saiu bastante abalado da crise financeira global
Uma das causas do início da crise mundial foi precisamente a compra e recompra de dívidas e de créditos, de uns bancos para os outros, de variados países, com juros diferentes.
Ora, com o auge do incumprimento, e a desvalorização do imobiliário pela entrega massiva de casas aos bancos, o que antes valia 100 passou a valer 10, logo surgiu um gigantesco buraco financeiro de proporções mundiais, pelo contágio proporcionado por esta estranha, mas inovadora, forma de comércio.
Rebentou a bolha e com ela estalou todo o sistema de comércio à escala global, com países e nações a entrarem em bancarrota e a não conseguirem pagar aos seus credores, necessitando de ajuda financeira internacional.
E tudo descarrilou em catadupa. Hoje, em plena maré de tempestade, voltam os sistemas de troca directa, a troca de serviços por serviços e de bens por outros bens.
O sistema de comércio pode voltar a moldes de transacções directas nalgumas faixas da sociedade
Voltam os sistemas de partilha de meios e de recursos, os bancos de horas e as estruturas comunitárias.
Voltam os temas da solidariedade, da ajuda ao próximo e do bem colectivo, em detrimento do individualismo, do materialismo e do culto da imagem. O significado voltou a ser mais importante que o nome.
Ora, estas mudanças já alteraram e continuarão a alterar as tendências do comércio a nível mundial. Por um lado, porque muitas das marcas – grandes e pequenas – foram profundamente afectadas pela crise. Por outro, porque as margens de lucro dos bens e serviços diminuíram significativamente e aquilo que se vendia antes por 200, hoje vende-se por 100 e até menos.
As menores margens de lucro do comércio podem influenciar toda a cadeia de valor
Na verdade, parece que nada vai voltar a ser como dantes e que o sistema de comércio mundial pode sair bastante abalado de toda esta crise. No limite, quem irá sofrer com isto tudo serão os pequenos fornecedores, pois os grandes retalhistas não estarão na disposição de baixar as margens de lucro.
Eles e os funcionários, que verão os seus salários revistos em baixa. Tudo porque o poder de compra interno, nomeadamente nos países mais afectados, nunca mais será o mesmo.
O comércio mundial terá forçosamente de se adaptar aos novos tempos, isso é quase certo! E as coisas, provavelmente, nunca mais serão como dantes…
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