Do outro lado do progresso
A outra face do progresso das sociedades desenvolvidas é a destruição – destruição decorrente da sobre-exploração de matérias-primas, da ocupação sobredimensionada do espaço, das intensas – e imensas – actividades industriais, da contaminação da água, do ar, do solo, do aumento da população, do crescimento económico, da modernização das sociedades, do desenvolvimento tecnológico. Enfim.
Como parar?
Tende, este processo sistemático e contínuo, a agravar-se inexoravelmente. E será a ascensão, legítima, das sociedades em vias de desenvolvimento, a um nível de vida idêntico ao do das sociedades desenvolvidas nos moldes actuais, que fará colapsar o desenvolvimento humano? É urgente, e imperial, encontrar caminhos de progresso alternativos de futuro.
O comércio, a ecologia e o ambiente
O progresso acelerou, dramaticamente, após a II Guerra Mundial, a industrialização da agricultura nos países mais desenvolvidos e fez iniciar o processo, em resultado da Revolução Verde das décadas de 1950 e 1960, em muitos dos países mais pobres. Estas tendências transformaram a produção alimentar por todo o mundo – as colheitas mundiais de cereais aumentaram 250%! Pois. Mas acontece que todo este processo se deu, e continua a dar, na dependência dos combustíveis fósseis – na forma de fertilizantes (os quais representam cerca de um terço do consumo de energia da agricultura), pesticidas, máquinas e equipamentos agrícolas alimentados a hidrocarbonetos e sistema de irrigação. Na verdade, estima-se que a agricultura industrializada consome cinquenta vezes o imput energético da agricultura tradicional.
Os constrangimentos geológicos quanto ao futuro da energia, conhecido como pico petrolífero (ou peak oil – o ponto a partir do qual a produção cessa de aumentar e começa o seu inevitável declínio a longo prazo), têm, entretanto, recebido particular atenção: prevê-se que com os consideráveis aumentos da procura de fósseis minerais pela China e Índia (economias emergentes) se consuma, nos próximos quarenta anos, a outra metade das reservas conhecidas. Um progresso negro – e em bico. Mas deixemos de brincar porque os impactos serão grandes.
Os impactos
Os impactos vão sentir-se a vários níveis, claro, nomeadamente a nível alimentar – apesar de ser dada mais atenção a outros sectores, do que por exemplo ao comércio alimentar, como os sistemas de transportes, a produção industrial e energia de consumo doméstico.
A menos que seja urgentemente alterado este cenário, toda a segurança alimentar (quantidade e qualidade dos alimentos) se esfumará igualmente.
São, portanto, necessárias mudanças urgentes e eficazes para assegurar que as necessidades alimentares de todos os países sejam satisfeitas.
Tal envolverá a criação e implementação de um sistema agrícola de baixa energia, baixo input cada vez mais orgânico e localizado, e exigirá mudanças fundamentais na política energética e nas regras do comércio mundial.
A (boa)tendência do progresso
A tendência crescente para as práticas de exploração sustentável, baseada numa relação entre o consumidor e a procura mais aproximada e equilibrada (relação oferta e procura) – que respeita a biodiversidade, estimula o investimento e a auto-confiança locais, com métodos da agricultura orgânica ou biológica – parece ser um passo para reverter, ou minimizar talvez, a destruição anunciada do planeta onde destruição e progresso se fundem.
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